Reunião Semanal
quarta, 24 de setembro de 2025
Pato Branco precisa parar de apagar o passado para planejar o futuro
Na reunião semanal da diretoria da Associação Empresarial desta semana, foi realizada uma apresentação sobre o planejamento urbano de Pato Branco. O arquiteto e urbanista Adriano Scarabelot fez um contundente resgate histórico das últimas três décadas de construção — e desconstrução — do Plano Diretor da cidade. Com base em uma linha do tempo que evidencia avanços, retrocessos e descontinuidades nas gestões municipais desde 1989, Scarabelot alertou para os riscos da fragmentação das políticas públicas urbanas e a perda de foco na essência do planejamento de longo prazo.
“É preciso voltar à história, entender o que foi feito para não errarmos de novo. Pato Branco já perdeu muito tempo e dinheiro com projetos que nascem, somem, e não deixam legado”, afirmou. Como exemplo, ele citou a extinta Usina do Conhecimento — construída, abandonada e demolida — como um símbolo do desperdício de recursos e da ausência de visão de futuro. “Muito dinheiro público foi desperdiçado ali. Precisou até de uma lei estadual para permitir um novo uso do terreno, e nada ficou”.
Um dos principais marcos apontados por Scarabelot foi a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Pato Branco (IPPUPB) em 2001, inspirado no IPPUC de Curitiba. O órgão técnico nasceu com a missão de planejar a cidade de forma contínua, com base em dados e participação técnica. “Era um avanço, o instituto pensava mobilidade, urbanismo, estatísticas, sinalização, ciclovias. Mas foi extinto apenas três anos depois. Desde então, nunca mais conseguimos retomar esse modelo”.
A substituição do IPPUPB por uma Secretaria de Planejamento Urbano não manteve o mesmo foco. Segundo Scarabelot, a secretaria, ao longo das gestões, passou a se dedicar principalmente à aprovação de edificações, loteamentos e desmembramentos, deixando de lado sua função estratégica. “A ideia do instituto era justamente essa: focar no planejamento, nos planos diretores, nos planos de mobilidade. Mas o foco se perdeu, e a secretaria passou a atender no balcão, resolvendo apenas o dia a dia da cidade”.
Linha do tempo comprova descaso com o passado e descontinuidade das políticas públicas
A linha do tempo projetada na apresentação do arquiteto revelou ciclos descontínuos de planejamento e sucessivas trocas de prioridade conforme a gestão política. Planos diretores revistos por consultorias externas, obras iniciadas e abandonadas, além de intervenções urbanas que muitas vezes não dialogam entre si. Para Scarabelot, essa descontinuidade compromete o desenvolvimento urbano e impede a construção de uma cidade pensada para o futuro. “O Plano Diretor não pode ser um amontoado de mapas, ele precisa guiar a cidade. Mas para isso, precisa haver continuidade entre as gestões”.
O arquiteto também destacou a proposta da Associação Comercial de criar um Conselho Municipal de Desenvolvimento, mas defendeu que ele tenha um caráter mais amplo. “Não pode ser apenas econômico. Tem que ser urbano, ambiental, social. O desenvolvimento é mais do que crescer financeiramente. É crescer com qualidade de vida”.
Um cidade que começa do zero a cada quatro anos
Por fim, Scarabelot reforçou a necessidade de que cada nova administração municipal respeite e dê continuidade aos planejamentos anteriores. “Claro que cada prefeito vai querer deixar sua marca. Isso é legítimo. Mas é preciso seguir uma linha. Sem isso, a cidade recomeça do zero a cada quatro anos”.
Confira a linha do tempo, com as idas e vindas criações e extinções de secretarias e projetos entre os anos de 1989 e até os dias atuais
Gestão **1989–1992 | Prefeito Clóvis Padoan**
* Elaboração do **Primeiro Plano Diretor de Pato Branco**, com consultoria de Curitiba.
* **Contorno Leste** concebido como rodovia.
* **Código de Obras** criado nesse período *ainda está em vigor atualmente*.
#Gestão **1993–1996 | Delvino Longui**
* **Alteração da Avenida Tupi** com obras de revitalização.
Consequência: Forçou o centro a se expandir em todas as direções.
Gestão **1997–2000 | Alceni Guerra**
* **Criação do IPPUPB** – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Pato Branco, inspirado no IPPUC de Curitiba.
* IPPUPB como autarquia municipal independente e autofinanciável.
* **Mudanças significativas no trânsito**:
* Inversão de binários,
* Implantação de rotatórias e semáforos,
* Projeto de ciclo visual,
* Levantamento de estatísticas de acidentes,
* Projeto de novos binários,
* Sinalização vertical.
* Início da **revisão do Plano Diretor de 1990**.
Gestão **2001–2004 | Clóvis Padoan (Segundo mandato)**
* **Extinção do IPPUPB**.
* Construção da **trincheira do Patinho** e **marginais da BR-158**.
Gestão **2005–2008 | Roberto Viganó **
* **Retomada do IPPUPB** como diretoria da Secretaria de Obras (após campanha da AREA com candidatos).
* **Revisão do Plano Diretor com profissionais locais**.
* **Retomada das alterações de trânsito**.
* Execução de **ligações viárias na zona sul**.
Gestão **2009–2012 | Roberto Viganó (Segundo mandato)**
* **Duplicação da Avenida Tupi**;
→ Tocantins virou mão-única e depois voltou a ser mão dupla, eliminando estacionamentos.
* **Projeto do Complexo do IPPUPB** incluso no Plano Diretor.
* IPPUPB, subordinado à Secretaria de Obras, passou a aprovar edificações e loteamentos
→ Tornando-se um órgão burocrático voltado ao “balcão”.
Gestão **2013–2016 | AugustinhoZuchi **
* **Criação da Secretaria de Planejamento Urbano**, herdando funções do extinto IPPUPB.
* Secretaria perdeu o **foco principal de planejamento estratégico**, assumindo funções operacionais como aprovação de loteamentos e edificações.
* Construção da **trincheira Tocantins x Tupi**.
Gestão **2017–2020 | Augustinho Zuchi (Segundo mandato)**
* Início da **Revisão do Plano Diretor**.
* Intervenções significativas na estrutura viária por conta do **crescimento horizontal** da cidade.
Gestão **2021–2024 | Robson Cantu**
* **Contratação, em 2022, de consultoria de Curitiba** para revisar o Plano Diretor.
→ **Aumento significativo do potencial construtivo na área central**.
* Plano não foi compatibilizado com o Plano de Mobilidade feito pela mesma consultoria em 2024.
* Plano de Mobilidade foi entregue à Câmara no final de 2024.
Gestão**2025–2028 | Geri Dutra**
* Início da **vigência do novo Plano Diretor em fevereiro de 2025**.
* **Reapresentação do Plano de Mobilidade à Câmara**.
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